Blue Velvet
Mulholland Drive
Music by Angelo Badalamenti
Blue Velvet (Veludo Azul, 1986) foi o projeto que estabeleceu a parceria entre David Lynch e Angelo Badalamenti com sua boa acolhida pelo publico. Lynch, que vinha do bem sucedido Homeme Elefante (1980) e do controvertido Duna (1984), encontrou em Veludo Azul a forma perfeita de narrativa, elementos estéticos e inserts surreais, praticamente voltando a suas experiências de Eraserhead (1977).
Elegante e misteriosa, a música de Blue Velvet teve grande importância em corresponder à busca estética do diretor. Suas atmosferas de suspense são uma ameaça musical: não dizem tudo o que poderiam e justamente por isso são assustadoras. As atmosferas noturnas de Night Streets e principalmente Frank chegam a ser incômodas em suas sombras indecifráveis. Faixas como Jefrey´s Dark Side e Frank Returns fazem referência às músicas dos filmes noir da década de 40 e praticamente inauguram a inclusão de elementos nostálgicos que seriam revistos nos filmes seguintes. O jazz atmosférico, quase na forma de clichê genérico, que tanto viria a caracterizar o trabalho conjunto do diretor e do musico já está presente aqui na faixa Akron Meets the Blues. No meio da escuridão insondável, Mysteries of Love é um raio de luz redentor em sua ascenção divina. Mas é tão perfeito e confortador que causa deslocamento, assim como o final idealizado do filme. Como de hábito nos filmes do diretor a trilha inclui musicas externas como Honky Tonk pt1 com Bill Doggett e In Dreams com Roy Orbison. Infelizmente a edição em CD não traz a clássica balada Blue Velvet com Bobby Vinton e sim sua versão com Isabella Rossellini (a versão do filme). Tão fascinante quanto apavorante, o universo surreal de David Lynch encontrou em Badalamenti o parceiro definitivo para a embalagem sonora de seus pesadelos cênicos.
Diretor e compositor voltariam a impressionar com Mulholland Drive (A Cidade dos Sonhos). Novamente fazendo referência aos anos 50, a trilha tem um forte paralelo com a do filme Blue Velvet, mas avança mais ainda em direção ao indefinido e sombrio como nas envolventes frases de violino da faixa título, Mulholland Drive. Também como Blue Velvet, a referência aos anos 50 é feita através de temas de jazz que beiram a estilização (quase caricaturas musicais) como em Dinner Party Pool Music e Silencio. Ainda nessa orientação a estilização jazzística, a trilha inclui Pretty 50s e Go Get Some, extraídas do álbum Blue Bob do próprio David Lynch feito em parceria com John Neff. O efeito de nostalgia através de um filtro distorcedor é notável, mas é nos movimentos sorrateiros de sopros e cordas que Badalamenti exibe o melhor da trilha. Conduz a audição a profundezas raramente ouvidas como em Diner, Mr. Roque e, principalmente, na longa faixa (doze minutos) Dwarfland, com suas enigmáticas ameaças de “erupção” sonora. Também inclui grandes temas externos como os blues The Beast com Milt Bruckner e Bring It On Home com Sonny Boy Williamson. Mulholand Drive não foge à regra já testada e aprovada pelo diretor e o compositor, apenas acrescenta mais um quadro à provocativa galeria dos autores.

10
Atmosfera
Cult
em

Acid Jazz
Anos 70