Nosferatu the Vampyr
Music by Popol Vuh
Com a refilmagem em 1978 do clássico expressionista Nosferatu (Nosferatu, 1922), o diretor Werner Herzog conseguiu a proeza múltipla de registrar um dos grandes filmes de horror dos anos 70, um de seus melhores filmes e um dos mais marcantes desempenhos de Klaus Kinsky, seu lendário parceiro de carreira e desentendimentos pessoais.
Nosferatu tem uma recente reedição pelo selo SPV com 23 minutos a mais que a disponível anteriormente. As peças clássicas de Wagner e Gounoud usadas no filme não constam na edição. A trilha de Florian Fricke e seu grupo é um correspondente à palidez cadavérica da fotografia que marcou o filme com tanta integridade. Transcendente em sua lenta determinação e hipnótica nas ressonâncias ácidas de cordas dedilhadas como nas faixas Mantra e Morning Sun a trilha é um experiência rara em sua postura estática, espectral, de texturas eletrônicas abstratas e andamentos circulares. Hore Der Du Wagst para piano e efeitos, é de uma delicadeza quase impressionista. Nem todo o material composto esta na edição final da película e assim alguma referência oriental no som de cítaras e tablas pode soar estranhamente deslocada. A faixa Mantra é usada muito brevemente na cena de Lucy (Isabelle Adjani) sozinha na praia. A faixa Die Nacht der Himmel (Jonathan explora o castelo do Conde) é talvez a peça mais espectral jamais gravada, com suas emanações eletrônicas rasteiras, e linhas melódicas incorpóreas, quase ausentes. Der Ruf Der Rorfloete soa como vocalização humana (ou inumana) em suas linhas eletrônicas. Ainda mais longe vai a faixa On the Way, com arrepiantes vocalizações gregorianas, ao mesmo tempo celestiais e macabras. É o tema mais utilizado no filme: a abertura com os corpos mumificados, o trajeto de Jonathan (Bruno Ganz) até o castelo, a travessia e chegada do barco à cidade de Varna.
“Werner (Herzog) me perguntou “Florian você tem algumas músicas que dê pra sentir medo? – Então me lembrei de umas peças eletrônicas que fiz nos primeiros anos de atividade. Essas faixas acabaram formando a segunda parte de Nosferatu”
Envolvente e incrivelmente forte em sua simplicidade direta, Nosferatu é um exemplo originalíssimo de trilha sonora que trabalhou mais na acentuação da morbidez plástica do filme do que sustentando a ação.

10
Cadavérico
em