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Retrô sem vergonha 2

 

Depois que os anos 60 revolucionaram conceitos estéticos, culturais e comportamentais, a indústria cultural década de 70 teve liberdade sem precedentes em sua produção, fosse de vanguarda ou popular. Fosse do bom ou do ruim, artístico ou apelativo. E o cinema erótico que ganhava fortalecimento no final dos anos 60 em filmes como Io Emmanuelle (1969) ou Camille 2000 (1969) vencia a resistência do mercado e ganhava distribuição comercial em amplo circuito. Pierre Bachelet fez sensação com as músicas de Emmanuelle (1974) e Historie D´O (A História de O, 1975). Nico Fidenco compôs para série Black Emanuele e as comédias/chanchada com Gloria Guida tiveram apreciável nível musical. Veja mais em Cinema Erótico.

 

O italiano Piero Umiliani (Ma-Nah Ma-Nah) foi um dos mestres pop-kitsch do período. É difícil destacar uma de suas trilhas sensuais que mesclavam referência ao rock, ao jazz e ao soul sem considera-la clássica ou antológica, ou um marco sonoro do período. Por exemplo, Baba Yaga, com seus acentuados swings sensuais, é um exemplo do melhor do kitsch playboy dos anos 70. O filme era uma versão das HQs de Guido Crepax, com sua famosa personagem Valentina, e a trilha de Umiliani assumia toda a fantasia kitsch-surreal a que tinha direito. Para os thrillers do diretor Mario Bava, Umiliani compôs 5 Bambole Per La Luna D´Agosto (1970) e La Morte Bussa Due Volte (1969). Monumentos retrô, dignos representantes de sua época.

E o erotismo que corria solto no cinema europeu dava o tom de grande parte da produção de então, ora apimentando filmes de suspense, ora nos exercícios estéticos de horror de Jean Rollin, ou simplesmente servindo a temas tabu em dramas sem maior ambição além de participar das bilheterias. O drama erótico La Svergognata é um dos muitos exemplos da linha popular apelativa que teve seus anos de ouro na década de 70. Com elenco B, roteiros medianos e direção despretensiosa, os filmes só conseguiram seu lugar na história por suas trilhas sonoras, notáveis mesmo depois de tantos anos. É discutível (até provável) que muitos filmes que circulam oficialmente ou alternativamente como “clássicos cult” tiveram resgate devido aos lançamentos de suas trilhas. É possível que filmes como o citado La Svergognata, Il Corpo ou La Gata in Calore tenham sido lembrados mais pela edição de suas trilhas do que por alguma revisão saudosista ao período.

Outros compositores como Henry Mancini adaptavam sua reconhecida linha popular, jazzística e romântica, aos novos modismos sonoros em trilhas como as de 99,44/100% Dead (Até o Último Disparo, 1974), Return of the Pink Panther (1976) e The Thief Who Came to Diner (O Ladrão que Veio Jantar, 1973). O dramalhão romântico que havia dado tão certo em Love Story (1970) foi tendo suas consequências. Algumas boas como Summer of 42 (Houve Uma Vez no Verão, 1972) cujo tema famoso de Michel Legrand serviu como um encerramento simbólico a uma forma de cinema que se tornava cada vez mais anacrônica. Outras não tão boas: The Other Side of Midnight (1977, novamente Legrand), Jeremy (1973, Lee Holdridge) ou Ice Castles (1979, Marvin Hamlisch) são a prova de que o “dramalhão mexicano” vigorou por muito tempo na cultura americana.

Stelvio Cipriani compositor habitual de filmes policiais e de suspense teve respeitável passagem pelo gênero. Cipriani foi um dos mais produtivos do período com as belas trilhas de Anonimo Veneziano (1970), Dedicato a Una Stella (1974) ou com as evoluções rapsódicas para piano de Uccidere in Silenzio (1972).

Tom Jobin em uma de suas raras composições para cinema tem a trilha de The Adventurers (O Mundo dos Aventureiros, 1970) como um grande representante de período como trilha kitsch (principalmente quando associada ao filme). Entre a expressão sinfônica para cenas de ação (arranjos de Eumir Deodato) e muita bossa nova, dois clássicos de Jobim sairiam dessa trilha: Olha Maria e Chovendo na Roseira.

Piero Piccioni também fez algo assim (aproximação entre música incidental e canção pop) em Puppet on a Chain (Bonecas Acorrentadas, 1972) aventura de espionagem europeia acima da média e com tudo a que a cultura playboy tinha direito: balanços “malandros” para a definição marginal e o dinamismo jazzístico para momentos de ação.

Francis Lai surpreendeu com as músicas para L´aventure C´est L´aventure (A Aventura é Uma Aventura, 1972) e Le Corps De Mon Enemi (Ânsia de Vingança, 1976) com sua influência soul.

Sempre presente e sempre ativo, Ennio Morricone tem uma quantidade de títulos que caberiam em uma revisão individual. Le Foto Proibite Di Una Signora Per Bene (1972) é exemplar das ambições sonoras do período (exotismo, insinuação, sensualidade) e a variedade musical da comédia Il Gatto (1975) é realmente invejável. O tema L´attico Iluminatto é uma das mais românticas de suas composições, mas com tal acentuação no clima sensual no fraseado de trompete que cabe honrosamente nos critérios desta seleção. A trilha para o drama Cosi Comme Sei (1978) também é uma das mais conceituadas do compositor na linha romântica.

Na alemanha Peter Thomas é o grande herói retrô. Seu trabalho é mais facilmente encontrável em coletâneas do que trilhas integrais. Peter Scores e Film Music são duas ótimas amostras da música do compositor mais destacado do mercado germânico.

E com a revisão contemporânea promovida pelo mercado de CDs, muitas gravadoras reviraram seus estoques para relançar um monte de coisas legais. A Cinevox, por exemplo, que adora lançar coletâneas temáticas desde os tempos do vinil tem em Bossa Galore e Beat Cinevox I e II grandes itens aos apreciadores do pop cinematográfico. E o selo alemão Diggler não fica atrás com os imprescindíveis St. Pauli Affairs, Melodies in Love e Schwabing Affairs. Confira também os catálogos dos selos Cinedelic, Crippled Dix Hot Wax, All Score Media, Bear Family, Chris Soundtrack Corner.

 

 

 

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